El Niño está sendo formado e deve ganhar forças até o final de 2023. O fenômeno afeta as condições climáticas de diversos países, entre eles o Brasil. A chegada do El Niño é muito comentada, principalmente no agronegócio, pelo fato de influenciar na temperatura e na ocorrência de chuvas, o que afeta diretamente as safras. 

 

Mas afinal, o fenômeno gera consequências positivas ou negativas para o agro de forma geral? Entenda o que é o El Niño, quais os efeitos causados, como ele afeta a agricultura e até mesmo como proteger sua empresa de insumos agrícolas de possíveis prejuízos causados pelo fenômeno.

O que é o El Niño

O fenômeno El Niño Oscilação Sul, ENOS, consiste na oscilação da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico Equatorial, e pode ser dividido em duas ocorrências, o El Niño e a La Niña. Quando positivo, há o aumento da temperatura, nesse caso ocorre o El Niño. Quando negativo, há uma redução de temperatura, nesse caso ocorre o La Niña. Há também anos neutros, em que as águas do Pacífico estão com temperatura próxima ao normal, não ocorrendo nem aquecimento nem resfriamento.

Influências dos fenômenos historicamente

O último ano que foi registrado a ocorrência de um El Niño foi em 2020, porém seus efeitos neste ano foram fracos. Desde então, o La Niña é que vem impactando o clima e a agricultura de países como o Brasil.

No ano de 2015 e 2016, o El Niño registrou temperaturas recordes, com destaque para 2016. Porém, um dos piores anos em termos de efeitos do fenômeno foi o ano de 1982.

Emily Becker, cientista do clima e comunicadora da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), confirmou que o El Niño já está começando a acontecer. De acordo com a cientista, as chances do fenômeno se tornar um evento forte em seu pico são de 56%, enquanto as chances de termos pelo menos um evento moderado são de aproximadamente 84%.

Portanto, de acordo com especialistas, há chance do evento se configurar como um Super El Niño, ou seja, com efeitos ainda mais intensos.

Cenário atual e previsões 

Nos últimos anos, o mundo estava sofrendo influência do La Niña. No Brasil, esse fenômeno causa severa seca na região Sul, com longos períodos sem chuva, principalmente entre os meses de setembro e fevereiro, além do aumento brusco das temperaturas diárias. Já nas regiões Norte e Nordeste o contrário acontece, o volume de chuva se eleva e pode ocasionar enchentes.

Com o período de ocorrência do El Niña, diversos produtores da região Sul viram suas safras serem bastante afetadas pela seca prolongada, o que pode ter ocasionado grande perda produtiva e consequente prejuízo, seguido de mudança de setor de atuação. Houve um avanço na pecuária na região, simultâneo ao regresso na agricultura.

Como mostra  o gráfico abaixo, estudos indicam que os efeitos do La Niña estão cada vez mais fracos. Já os efeitos do El Niño estão ganhando espaço desde o trimestre de março, abril e maio, e vão se consolidar cada vez mais até o final de 2023, influenciando a estação chuvosa de 2023 e 2024

Consequências da ocorrência do El Niño no Brasil

Com o aquecimento da superfície do mar do Oceano Pacífico Equatorial, o clima em diversos países é afetado também, principalmente os que estão localizados na zona intertropical, como é possível observar no mapa abaixo: 

Mapa de influência do fenômeno El Niño.

No Brasil, o fenômeno faz surgir condições climáticas muito contrastantes, como a previsão a seguir para o segundo semestre de 2023:

  • Norte - A região sofre com um maior período sem chuvas, que ocasiona secas prolongadas e um maior risco de incêndios florestais. Isso afeta não apenas a economia como também a saúde da população e a fauna e flora local.
  • Nordeste - Assim como o Norte, o Nordeste também sofre com secas prolongadas por conta da diminuição brusca das chuvas.
  • Centro-Oeste - A região no geral apresenta clima seco e temperaturas mais altas. Já no sul do Mato Grosso do Sul será possível observar chuva além de temperaturas acima da média.
  • Sudeste - Ocorre um aumento moderado de temperaturas.
  • Sul - Ao contrário das regiões Norte e Nordeste, na região Sul aumenta a intensidade e frequência de chuvas, além do aumento da temperatura média.

De forma geral, podemos perceber que o El Niño provoca maior incidência de chuva na região Sul e menor incidência à medida que caminhamos para o Norte, como podemos observar no gráfico abaixo.

Consequências do El Niño no Agro

Os efeitos do El Niño na agricultura brasileira são diferentes para cada uma das regiões, assim como os efeitos no clima e na ocorrência de chuva, como apresentado anteriormente. 

Existem alguns efeitos que o El Niño causa na agricultura brasileira, como:

  • Chuvas mais intensas - pode haver situações de chuvas fortes até o fim do inverno/primavera, mesmo com a pausa nas chuvas ao final de julho e início de agosto;
  • Menores riscos de geada no Sul - favorecendo as culturas do milho e trigo;
  • Baixa luminosidade durante a safra de inverno - causado pela presença de nuvens;
  • Aumento das temperaturas - prejudica culturas como o café;
  • Menor déficit hídrico - o que pode beneficiar a cultura do milho;
  • Aumento no aparecimento de doenças - mais chuvas e nebulosidade podem aumentar o tempo de molhamento foliar, favorecendo o aparecimento de doenças fúngicas.

De uma forma geral, a estimativa é de que 80% da variação da produtividade agrícola depende das condições climáticas. Nas áreas com aumento da precipitação podem ocorrer inundações nas culturas, o que tende a reduzir a produtividade. Já nas áreas com redução das chuvas pode ocorrer a desaceleração do desenvolvimento das culturas, o que também tende a reduzir a produtividade. 

O fenômeno exigirá das plantas uma maior capacidade de suportar situações de estresse, o que torna fundamental o balanço nutricional. Entretanto, com um olhar centrado para cada cultura podemos ter outras previsões mais específicas:

  • Café - A tendência é de apresentar uma produtividade mais baixa, algo em torno de 5%, pois é uma cultura que se desenvolve no inverno, e com a ocorrência desse fenômeno teremos invernos menos frios. Sendo assim, podemos prever uma alta nos preços deste produto.
  • Cana-de-açúcar - Mesmo com as regiões Centro-Oeste e Sudeste sendo pouco afetadas pelo fenômeno, a alta umidade, em casos de El Niño de forte intensidade, pode prejudicar o ritmo da safra e moagem dessa cultura. Caso haja reflexo na disponibilidade da cana-de-açúcar, é esperado que o preço do açúcar e do etanol aumente.
  • Milho - O milho tende a ser beneficiado com o fenômeno.
  • Soja - A cultura acompanha a distribuição de chuva, ou seja, as safras serão melhores no Sul e piores no Norte do país.

Como empresas de insumos agrícolas podem se proteger nesse cenário

Visto que tanto o El Niño quanto o La Niña são cíclicos e não há como evitar, é possível apresentar alguns cuidados que as empresas de insumos agrícolas devem tomar para que esses fenômenos não afetem negativamente sua economia.

Uma análise de risco bem feita inclui tanto a análise do perfil do produtor quanto a análise do mercado. Dentro da análise do perfil do produtor, podemos identificar dois cenários importantes, o financeiro, que indica se ele é um bom pagador historicamente, e seu perfil como produtor rural efetivamente, ou seja, seu histórico de safras. Já com base na análise do mercado, a empresa deve analisar diversos fatores econômicos mundiais para entender qual é a projeção para o produto nos próximos meses e também os fatores climáticos da região de cada um dos seus clientes.

Contar com uma carteira de recebimento diversificada, tanto com relação a culturas quanto com relação a regiões, também é uma boa prática nesse cenário. Se uma determinada região tiver problemas climáticos, é bom que a empresa tenha toda a sua carteira de clientes centralizada nessa área, para que não tenha um enorme prejuízo. O mesmo acontece com as culturas, caso uma determinada cultura tenha problemas climáticos, como por exemplo o café que precisa de temperaturas mais baixas, é bom que a empresa tenha em sua carteira clientes que cultivem outras culturas também, cobrindo assim o prejuízo dessa.

Outro ponto válido é o monitoramento da carteira de recebimento. Mesmo após já ter a carteira de clientes formada, é importante que as empresas de insumos agrícolas continuem monitorando a situação de cada um deles, para que não tenham surpresas desagradáveis no momento de recebimento final. Fazendo isso, é possível identificar produtores com tendência a ter problemas antes que isso aconteça de fato, assim, as empresas conseguem ajudá-los e então evita seu próprio prejuízo.

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