A soja é um grão de enorme importância global, muito utilizada na alimentação animal, na produção de óleo vegetal ou até mesmo na produção de biocombustíveis. A demanda de todos esses fins citados, cresce constantemente no mundo todo, o que faz com que a demanda da soja aumente consideravelmente.

Dados da Embrapa Soja revelam que, na safra 22/23, a produção mundial de soja alcançou a marca de 369,029 milhões de toneladas, plantada em uma área de 136,029 milhões de hectares. Já a produção brasileira de soja nessa mesma safra atingiu 154.566,3 milhões de toneladas, o que equivale a mais de 42% da produção mundial de soja. 

A importância da sojicultura, mundialmente falando, é nítida. No caso do Brasil a soja é a principal cultura cultivada, isso indica uma grande representatividade econômica, mas é necessário conciliar a grande expansão da soja com a sustentabilidade ambiental. Esse é o assunto que será tratado ao longo deste artigo.

Contexto histórico

A expansão da plantação de soja em território brasileiro sempre foi muito intensa, afinal, como já mencionado anteriormente, a demanda por esse grão é crescente. Com isso, era comum que os produtores rurais desmatassem regiões que deveriam ser preservadas para que aumentasse sua área de produção, até porque, antigamente o movimento de conscientização da importância da preservação da natureza não era um assunto em alta como é atualmente.

Um grande marco na produção brasileira de soja ocorreu no ano de 2004, quando a imprensa nacional e internacional noticiou com alarde a explosão de desmatamento da Amazônia, que atingia 27 mil km2, uma área equivalente ao estado de Alagoas. Estudos mais profundos indicavam que a expansão da plantação de soja na região representava um grande fator relacionado ao desmatamento.

A situação se agravou quando, em 2006, o Greenpeace publicou o relatório “Comendo a Amazônia”, detalhando como a soja e seu mercado internacional financiavam a abertura de novos cultivos em áreas de floresta. A organização identificou o agronegócio, redes de supermercados e o fast food como os culpados por esse grande crime ambiental. 

A repercussão da denúncia foi tanta, que grandes marcas como Mcdonald's e Wal-Mart passaram a se preocupar com o assunto, principalmente como sua reputação poderia ser afetada negativamente caso não tomassem nenhuma iniciativa. Foi então, que essas grandes corporações transnacionais se juntaram ao Greenpeace em busca de soluções, e logo em seguida, as tradings de soja da Amazônia começaram a participar dessas conversas.

Criação da Moratória da Soja (MS)

Em julho de 2006, foi firmado um acordo entre organizações não governamentais, agroindústrias e governo federal. Tal acordo ficou conhecido como Moratória da Soja, e estabelece a proibição de compra e financiamento de soja produzida em áreas da Amazônia, que tenham sido desmatadas após 22 de julho de 2008.

O objetivo central da moratória é aliar a preservação do bioma amazônico e o desenvolvimento econômico, por meio de práticas sustentáveis. Este foi o primeiro grande acordo voluntário para redução de desmatamento nos trópicos. De acordo com o pacto, 90% das empresas do mercado brasileiro concordavam em não comprar soja cultivada em áreas desmatadas no bioma Amazônia e/ou de agricultores autuados por exploração de trabalhadores em condições análogas à escravidão.

Inicialmente, a MS foi criada com o intuito de durar 2 anos, porém ela tem sido renovada anualmente de acordo com novas demandas e cenários e já está valendo há 17 anos. A moratória é coordenada pelo Grupo de Trabalho da Soja (GTS), que reúne membros do setor privado e da sociedade civil - Greenpeace, WWF Brasil, TNC, Imaflora, Ipam e Earth Innovation - além do Banco do Brasil.

A moratória monitora 76 municípios que são responsáveis por 98% da soja produzida na floresta amazônica. Esse monitoramento é feito de forma rigorosa por imagens de satélite de sensoriamento remoto com resoluções espaciais e temporais complementares, que são cuidadosamente analisadas por uma experiente equipe de intérpretes.

Foram estabelecidos critérios a fim de assegurar que os  produtores não cultivem e não comercializem produtos originados em áreas de desmatamento do bioma amazônico como garantia de cumprimento do acordo:

  • Realização de auditorias;
  • Apresentação de resultados para todas as empresas envolvidas;
  • Aumento da fiscalização por meio de tecnologias;
  • Requisição do protocolo de inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) durante o processo de compra e financiamento.

Vale ressaltar que como a MS é apenas um acordo e não uma legislação, é possível que um produtor esteja em conformidade com as leis e mesmo assim não esteja em conformidade com a moratória. Isso acaba gerando uma certa polêmica e muitos produtores se sentem prejudicados com a aplicação do trato.

Resultados percebidos

A safra nacional de soja 2021/22 alcançou um resultado de 125,5 milhões de toneladas, cultivada em uma área de 41,4 Mha. No bioma Amazônia foram plantados 6,6 Mha nessa mesma safra, o que representa 15,9% da área nacional, número bastante relevante.

Desde a implantação da moratória o desmatamento relacionado à soja caiu de 30% para menos de 1,5%, enquanto sua produção na Amazônia aumentou 400% em comparação com os números registrados em 2006.

Na safra 2007/08 (anterior à moratória) a área de soja no bioma Amazônia era de 1,64 Mha. Até agora houve um aumento de 4,96 Mha, dos quais 0,193 Mha (3,9%) com conversão de floresta no período da moratória, incentivando a expansão da soja, essencialmente, sobre áreas de pastagens oriundas de desflorestamentos anteriores à MS.

Tais resultados comprovam a eficácia dessa iniciativa no sentido de mitigar o avanço da soja sobre novos desflorestamentos, o que visivelmente não impediu o avanço da atividade econômica da sojicultura no bioma. Ou seja, indica que a preservação ambiental e expansão econômica podem e devem ser conciliados.

Importância de inserção das empresas de insumos agrícolas nesse cenário

Apesar da MS não ser uma legislação e não ter influência direta sobre as empresas de insumos agrícolas, esse é um ponto que essas empresas e, principalmente, seu setor de crédito deve se atentar. 

Antes da concessão de crédito aos produtores rurais, as empresas de insumos agrícolas devem analisar sua área de plantio, para saber sua capacidade produtiva e também para verificar possíveis embargos. Produtores que não cumprem a moratória assumem um risco no momento de vender sua produção, o que pode comprometer sua capacidade de honrar compromissos financeiros. 

Além disso, é uma tendência global que as empresas no geral se preocupem cada vez mais com questões sociais e ambientais. Nesse sentido, é importante que desde as grandes indústrias até as menores revendas acompanhem esse movimento, cuidando da sustentabilidade de toda a cadeia, até mesmo no relacionamento com os produtores.

Por ser uma tendência no mercado, já existem ferramentas prontas para auxiliar as empresas de insumos agrícolas a analisarem e monitorarem melhor seus parceiros e clientes. A plataforma totalmente integrada da Tarken traz insights valiosos, oferecendo informações importantes de ESG e compliance.

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